A primeira buzinada

Quando será? A cada dia fica mais perto o nascimento da Alice. Hoje, não. Amanhã. Será? Não. Quem sabe só semana que vem mesmo? Tivemos o primeiro alarme falso. Um exame indicou diminuição no líquido amniótico. Médicos são assim. Um resultado puxa outro pedido de exame. Tudo pra tirar as dúvidas. E fomos nós três, mais uma vez. Fizeram uma exame diferente. A intenção é medir as reações do bebê, seu conforto. Em uma sala pequena, eu, a mamãe e Alice. O som ambiente: o coraçãozinho de nossa filha marcando como se fosse um bumbo (e olha, a menina tem ritmo, hein? Dentro do compasso o tempo todo!). Como em um videogame, a mamãe tinha de clicar quando Alice mexia. Pensamos que isso seria fácil, ainda mais depois do Sonho de Valsa que as duas comeram minutos antes. Porque sempre foi assim, comeu chocolate, festinha na barriga. Mas acho que Alice tava tirando um cochilo pós-almoço. Eu entendo, filha, papai também abaixa o farol depois que almoça. O soninho foi interrompido por um dos testes. A moça do laboratório tratou de tocar uma buzina na barriga da mamãe! Resultado? Além do início de uma sequência de chutinhos e socos, um soluço interminável ficou no ar, dividindo os compassos com o coraçãozinho. Aqui dentro, o coração do papai apertou também. Não parava o soluço! Mas tudo bem. Depois assistimos a mais um videozinho do ultra-som. O líquido amniótico tinha aumentado seus índices. Os médicos chegaram à conclusão de que o espaço que Alice tem ainda é confortável e o bem-estar é reinante. Só não precisava aquela dona tocar aquela uma buzina ali, né?!

Reta final

Os dias já não são os mesmos. Uma dorzinha aqui, outra acolá, os pés que não dão trégua, uma desacelerada que pode ser natural para os outros, mas me deixa meio entediada. O quartinho está pronto, as tarefinhas acabaram e agora só me resta a espera. As noites já não são as mesmas. O sono interrompido pela necessidade incessante de fazer xixi acaba estimulando os pensamentos. E eles vão longe...Nossa rotina vai mudar ainda mais. Pode ser daqui um dia, uma semana, duas no máximo. Dá mesmo um frio danado na barriga. Uma mistura de ansiedade, alegria e apreensão. Alheia a tudo, ela continua toda saltitante. Não sei se está feliz da vida ou se está pensando 'Poxa, aqui tá apertado. Quero sair!' Bem, acho que vou ficar sem essa resposta...

ETs?

Hoje recebi mais um email de site especializado em bebês. Foi chocante até pra mim, que costumo fazer piada com tudo. Dá uma olhada no texto: 'Recém-nascidos são meio estranhos: não tem pescoço, têm um cabeção, pernas curtas e o tronco comprido. Ou seja: parecem pequenos ETs. Além disso, bebês que nascem de parto normal tendem a ter a cabeça pontuda. E mesmo os nascidos de cesariana chegam aos braços da mãe com o rosto inchado'. Genteeee, quem foi o desalmado que escreveu isso? Tudo bem, muita gente diz que o bebezinho tem cara de joelho, nasce inchado, vermelhinho...Já me preveniram que pode levar alguns dias pra ficar mais bonitinho. Mas daí a chamar a de ET é o cúmulo da insensibilidade. Acho que vou retirar meu cadastro deste site.

Contatos imediatos

Ultrassom é o exame mais esperado pelos grávidos durante todo esse período em que aprendemos a ter paciência. É uma forma de contato, de saber como o bebezinho está se desenvolvendo lá dentro da barriga. É uma experiência única ouvir o coração e saber que tudo está bem. E é delicioso tentar identificar os órgãos e os traços da pequena. Agora, nessa etapa final, fica mais difícil porque o espaço diminuiu e o rostinho já está bem espremido e inchado. Mas já sabemos que tem bocão e, ao contrário do pai, não vai nascer careca. Tem cabelinho, gente! Hoje em dia já tem ultrassom em 3D e 4D. Mas preferimos não fazer. Afinal de contas, a adivinhação faz parte do processo, do encanto...E estamos mesmo encantados.

Espírito de porco

Já falei aqui da atenção e dos mimos que as grávidas recebem, mas tem o outro lado. Como tem gente 'espírito de porco' neste mundo! Muitas mulheres insistem em dizer que você nunca mais vai dormir, que vai ficar exausta, que vai ver o que é bom depois que o bebê nascer, que sua vida nunca mais será a mesma...Não vivo num conto de fadas, não vivo de ilusões, mas sei muito bem o que me espera. Nem por isso é preciso fazer terrorismo nem ressaltar cada uma das dificuldades que a maternidade me reserva. Cansei de ouvir comentários do tipo 'Amamentar é uma luta', 'Dificilmente a gente tem leite', 'O leite não sustenta', 'Tive rachaduras nos seios', 'Tive mastite'...Meu Deus! Me poupem, por favor!

Não tentem guiar o papai

A minha leitura tem sido o 'Guia do papai'. Agora eu sei como as mulheres se sentem quando se deparam com um manual de algum aparelho eletrônico. Desculpem, não pude resistir à piada infame. Mas eu queria dizer é que só vou saber como cuidar da Alice quando ela nascer. A teoria, como segurar ela no colo, dar banho, lavar o cabelo, colocar os bodies... tudo está lá. E eu estarei lá para tentar aprender tudo isso.

Sim. Ninguém precisa me dizer que terei de ajudar a cuidar da minha filha. Existe nas pessoas uma mania de sempre cobrar do futuro pai: "você vai ajudar, né!?". Que saco. Eu sei, ninguém quer me ofender ou me aborrecer, mas é um saco, é. Claro que eu vou ajudar. E não vai ser por que vocês estão cobrando, mas porque é minha filha, oras. E eu preciso ajudar a mãe dela também. Certinho?

Alguma coisa ainda existe na cabeça das pessoas (até agora, todas mulheres), que diz que um filho bebê é um estorvo pra um pai. Nem sempre é. 

Eu vou cuidar da Alice porque quero participar desse momento. E lá vou eu ao 'Guia do papai'!

Os ensinamentos da gravidez

Quando você está grávida, desperta um sentimento engraçado nas pessoas. De repente, todos se interessam por você. Ou quase todos. Mas, em geral, perguntam se você quer se sentar, se está bem, se bebeu água, se está comendo direito, alisam sua barriga, se preocupam com seu inchaço, preparam lanchinhos pra você...O melhor é que é um sentimento sincero. Você está grávida, isso é explicação pra tudo. "Trouxe essas rosquinhas pra você, você está grávida, precisa comer direito". Mas agora, que estou na reta final da gravidez, fico pensando que vou sentir falta dos mimos. A gestação deveria servir de exemplo. Não deveria ser só por 9 meses, nem só para as grávidas. Mimar amigos e parentes custa tão pouco e pode ser muito mais prazeroso para nós que para quem recebe o carinho. Fazer um bolo, comprar um cartão, mandar um email inesperado, afirmar o quanto gostamos e como nos preocupamos com o outro...É tão simples, não custa tentar.